ARTIGO
Antecipadamente
gostaria que ficasse claro aqui que não irei defender esse ou aquele partido, e muito menos
insinuar o apoio particular a qualquer político.
Ultimamente, tem-se falado muito da importância dessa ou
daquela legenda em estar à frente da Prefeitura, e do risco do candidato A ou B em
assumir o executivo municipal.
A ocorrência da presumível mudança, talvez gere
um desconforto inconsciente pela possibilidade da descontinuidade
das ações eleitoreiras tanto propagadas. Não creio que isso seja um ameaça. Até
porque a permanência desta gestão não impediu absurdos realizados no período em
que ela está na direção. Fala-se de suporte aos morros, ao mesmo tempo em que
se registra quase 3000 mil pontos de risco na cidade. A Saúde não existe, e
isso pessoalmente tenho comprovado nos últimos
meses. A educação é uma das piores do país, sem contar o grande caos que tem se
tornado o trânsito do Recife. Mesmo assim, eles insistem em se manter no poder,
inclusive, brigando internamente para isso acontecer.
Na
área cultural, especificamente na que tenho atuado, na dança, especialmente, no
Frevo, pouco ou absolutamente nada foi feito de significativo nos últimos anos.
Não menciono 20 ou 30 anos atrás, até porque não tinha uma convivência
profissional com o ritmo nesse tempo, e mesmo assim, ainda não havia nessa
época uma política pública do setor.
Hoje
é tudo diferente, vivemos num momento de grande articulação social e de
diversas redes culturais coletivas. E o que sentimos atualmente na pele, é o
mesmo descaso repetido há quase dez anos ininterruptamente com a nossa dança.
Não falo da dança contemporânea, balé, movimentos ou conceitos experimentais.
Falo sim, da dança popular, do frevo do passista de rua, daquele que há tempos
é visto como acessório carnavalesco das mídias, propagandas e discriminado pelo
frevo musical burguês. E
não venham me dizer que algumas pessoas não podem reclamar porque não se
interessam e nem se fazem presentes em fóruns ou reuniões da classe. Como se isso
justificasse, por exemplo, as discrepâncias dos pagamentos atrasados dos
artistas locais perante o tratamento dispensado aos que vêm de fora. E pelo
que sei, a condição privilegiada desses que vem de fora, não foi conquistada em
reuniões presenciais nos fóruns locais. O que noto de fato, é um constante blá, blá, blá e pouca coisa
verdadeiramente realizada em prol de nossos artistas.
Em meio a tanta gente “articulada” e “interessada”, peço
que apontem uma melhoria advinda das políticas públicas para a dança.
Vejo
sim, muita gente tomando proveito de uma condição para amarrar contatos e
amizades, reforçando futuros apoios ou facilitações para seus projetos
pessoais e de grupos. Muita gente interessada em convencer adeptos do setor
para engrossar o cordão de forças para lutar simplesmente por uma identificação
sólida de uma caritativa imagem de âmbito profissional. Por favor, não me
forcem a dizer nomes, não quero ampliar o conceito de grupo “queimado” que os
Guerreiros do Passo têm no Recife. Não posso falar sobre ninguém, apenas
menciono aquilo que eu e meus amigos de luta temos visto e enfrentado na
militância cultural.
Ora, não é preciso ser um expert, para saber que o apoio ao frevo vai muito além de contratar
shows pirotécnicos para o Marco Zero
e disponibilizar recursos milionários a escolas de Samba para homenagear o ritmo em outro
estado. E quantos projetos aprovados em editais alterou o julgamento que
temos sobre a precariedade e o descaso com o passista e sua dança?
É preciso dá o real suporte aos autênticos
fazedores, e não apenas realizar arrastões multiculturais ou instituir novas
denominações como “detentores” para valorizar nossos artistas.
Por
outro lado, é preciso criar uma consciência entre nós, passistas, que só conseguiremos
melhorias profissionais, se deixarmos de nos vender por roupas
coloridas de cetim ou por apresentações de 20 e 30 reais. Ainda somos
considerados indivíduos com força cultural medíocre e sem fala relevante para
tentar influenciar o campo da dança. Só quem é ouvido, são os nomes
tradicionais e graúdos da cidade. Até porque, quando esses decidem falar, o
terror toma conta das diretorias das secretarias de cultura e das redações dos
jornais com colunas de arte. Vai dizer que fulano ou sicrano não terão seus
projetos aprovados ou estão insatisfeitos com alguma coisa... o bicho pega! E
nenhum representante público gostaria de saber que seu “competente” nome está
ligado às críticas dos profissionais da esfera em que ele atua.
Acho
que chegou a hora de mudar, e um dos pilares esperançosos da mudança é a
democracia, a alternância de comando, que além de ser vital ao processo, é,
sobretudo, saudável para qualquer sistema político de um país sério.
Não
podemos mais assistir a arrogância quando visitamos repartições e departamentos
da Prefeitura, observando gente se achando donas da cultura e tendo a certeza
que quem manda são elas. Chega! Estas pessoas poderiam refletir sobre o que é
servir ao povo, e não transformar a prefeitura em uma entidade afável do prazer alheio
e estrangeiro. Cabide! Isso, cabide de emprego é o que mais se vê. Líderes
comunitários e culturais cada vez mais cooptados e atrelados a esquemas de
bases de votos de indivíduos humildes e de instituições ligadas aos ciclos
culturais nas periferias. São com coisas assim que eles conseguiram se manter
no poder até agora.
E o que vai acontecer se não mudar a gestão? Não sei. Pra
mim não importa qual o partido e quem será o novo dirigente. Apenas acredito
que poderíamos ter outro pensamento para a valorização de nossa cultura. Uma grande revolução começa
por pequenas ações, e um governo que não respeita sua tradição e a cultura
principal de seu povo, não pode ser um bom administrador em outras áreas. O resultado está ai, mostrado pela rejeição dos atuais dirigentes. Depois, se mesmo assim nada mudar, pelo menos teremos a consciência que
tentamos fazer algo diferente.
Evoé!
Eduardo Araújo