Exageros
no espaço das aulas podem prejudicar o passista
Hoje em dia a busca por um melhor condicionamento
na arte desenvolvida pelos passistas de frevo, tem levado alguns
praticantes a sair por ai pulando de aula em aula, colhendo informações e dicas
que porventura possam transformá-los em dançarinos cada vez mais notáveis do
ritmo.
Quem acha que com isso vai ampliar seus
conhecimentos e torná-los artistas diferenciados, podem estar incorrendo num
grande erro. No entanto, a procura constante para o aprimoramento de sua dança
não deve ser desestimulada. Uma investigação criteriosa, baseada no contato com
profissionais experimentados, pode sim trazer resultados significativos, mas, é
preciso ter cautela.
Se partirmos do princípio que escolhemos um determinado estilo e optamos em praticá-lo, devemos focar nessas escolhas e não perder a
concentração nos trabalhos. Coletar informações aqui e acolá com a intenção de
compor seu repertório coreográfico, sem atentar para características peculiares
do ritmo, pode comprometer o treinamento, fazendo o sujeito tropeçar
literalmente pelas próprias pernas.
Quando este comportamento é adotado por um dançarino
de perfil profissional e com nível elevado, tudo bem! As informações neste caso
servirão para constituir elementos que se juntarão à sua bagagem de
conhecimentos. Agora, passistas que estão em processo de formação e no berço de
suas aptidões, a recomendação é que tenham um olhar atento aos exercícios
específicos do momento, e não começar a criar um caldeirão de informações
fragmentadas, que podem poluir sua dança, travando seu desempenho e
impossibilitando no futuro próximo a concepção de uma identidade artística de
caráter próprio. Claro, estão de fora desse contexto, os indivíduos que
procuram as aulas apenas como atividade física eventual.
Contudo, o assunto aqui é direcionado àqueles que ambicionam um progresso
correto e real em termos de aprendizado.
O Projeto desenvolvido pelos Guerreiros do Passo na
Praça do Hipódromo, tem nos servido de ferramenta fundamental para apreciações
e análises atuais do frevo, e como a nossa dança tem se tornado um produto cada
vez mais controverso em torno dos seus fazedores. Lá, além dos integrantes
habituais, recebemos igualmente membros de outras instituições culturais, e
temos notado aspectos curiosos na maneira como determinados participantes
abordam os instrutores do grupo, trazendo muitas vezes questionamentos
primários acerca dos movimentos executados. E o grau das dúvidas mostra qual
ambiente despreparado eles vieram ou ainda frequentam.
Do mesmo modo, se você deseja desvencilhar-se de amarras
e vícios que adquiriu em outros aprendizados, então porque depois de enveredar por
esses lugares, retornou ao espaço anteriormente renunciado? Se optar por seguir
tal grupo ou instrutor, continue! Se não observar evolução, faça uma
autoanálise e veja se é isso mesmo que você quer. Em seguida, mantenha o foco e
siga em frente.
Não é saindo por ai fazendo duas ou três aulas de grupos diferentes e
dedicando-se a diversos professores ao mesmo tempo, que vai encurtar seu
caminho e transformar você num ilustre artista entre seus colegas. Venerar
vários deuses pode até funcionar na Grécia Antiga, todavia, no frevo, a coisa é
bem diferente.
O problema é que muitos alunos demonstram uma
inquietação exagerada, e o afobamento desmedido pode provocar, nessas visitas
esporádicas, lesões nas articulações. Sem esquecer que por diversas ocasiões essas aulas são ministradas por
instrutores de capacidade duvidosa e com critérios pedagógicos sofríveis, baseando-se em conceitos esdrúxulos, e se utilizando de invencionices inúteis. E não é difícil saber que já
aconteceram casos de gente que, adentrando nesses recintos, saíram seriamente
machucados.
Não respeitar os estágios de preparação e os diferentes níveis e
limites corporais, pode implicar em resultados desastrosos, afinal, tentar
mudar a lei da física não é para qualquer um. Por outro lado, esses
“professores”, empolgados pelo bajulamento alheio, ficam a teorizar o simples,
para convencer aos incultos que tem total domínio da técnica. São os famosos “Mestres de esquina” de que
falamos num artigo anterior.
Apesar das poucas opções na cidade, o ideal é
buscar um lugar mais propício ao seu gosto, e convencer-se de um com estrutura
metodológica apropriada para conquistar seus objetivos. Além disso, é preciso
advertir aos passistas e foliões que ficam deslumbrados quando recebem alguns
aplausos nas ruas, que baixem um pouquinho sua bola, pois, ninguém pode estar
completamente satisfeito com sua dança, ao ponto de achar que já é uma
celebridade do passo. As aclamações, sem dúvida, são um incentivo, porém, não devem iludir as cabeças carentes de
certos principiantes, fazendo-os sair por ai se sentindo verdadeiros notáveis.
Talvez a vaidade e o oportunismo impeçam que
observemos coisas tão simples quanto essenciais no frevo, mas lembrem-se,
chegar ao topo requer humildade e dedicação exclusiva, e isso passa muitas
vezes por escolhas. E sempre haverá o que aprimorar na dança, e o começo
certamente são por boas escolas e profissionais qualificados.
Evoé!