Por MARIA GORETTI ROCHA DE OLIVEIRA
[Amigos
e amigas amantes do passo e do Mestre Nascimento, encontrei em meus
arquivos este artigo datado 27 de fevereiro de 2003, que nunca foi
publicado pela mídia. Na ocasião eu entreguei uma cópia ao Mestre
Nascimento e seu Filho Jaflis e pedi a eles que não partilhassem antes
de sua publicação, mas como isso até hoje não aconteceu, e continuo
achando que o assunto ainda é pertinente, resolvi publicá-lo. Afinal desempenhei o papel de historiadora das danças de
Pernambuco por várias décadas e sinto-me no dever de prestar
esclarecimentos e fazer justiça ao Mestre Nascimento do Passo, que me
ensinou a dançar e amar o frevo. Todas as informações deste artigo
contidas estão na minha tese de Mphil/PhD, intitulada Frevo: a
Classical Brazilian Dance, defendida no Departamento de Dance Studies,
School of Performing Arts, University of Surrey, Guildford, Reino Unido
2003 - por isso se usarem o material, coloquem esta referência.]
Muita
gente, em Pernambuco, trabalha em prol do frevo, investindo tempo,
dinheiro ou energia, seja profissionalmente ou amadoristicamente. No
entanto, ninguém ‘respira’ e ‘transpira’ frevo como Francisco do
Nascimento Filho, o Mestre Nascimento “do Passo” – um apelido artístico
recebido na ocasião em que venceu um disputadíssimo concurso de passo
patrocinado pelo DP e Emissoras Associadas, na década de cinquenta e que
acabou sendo adotado como um real sobrenome. Durante cinco décadas,
Nascimento do Passo vem dedicando os 365 dias do ano à uma luta
ininterrupta e acirrada para remover o frevo (música e dança) dos
parâmetros exclusivamente carnavalescos.
Para Nascimento e
seus alunos devotos, o frevo não é um simples e prazeroso entretenimento
de carnaval, mas sim uma fonte inesgotável de energia positiva para o
corpo e a mente. Frevo é cantado no hino da Escola como sendo “pique,
energia, saúde, ginástica e terapia” - uma espécie de remédio poderoso,
capaz de curar todos os males físicos e mentais. Mais ainda: esta
divertida forma de terapia, chamada dança do frevo, fortalece os
músculos do corpo, previne obesidade, celulite, e doenças
cardio-vasculares, estimula a criatividade artística e a agilidade de
raciocínio dos seus praticantes. Nascimento garante que, através da
prática regular desta dança multifuncional, crianças e adultos se tornam
mais energizados, positivos, auto-confiantes, criativos e, por
conseguinte, mais aptos para lidar com quaisquer situações e obstáculos
na vida.
As realizações de Nascimento para a história da dança
do frevo poderiam e deveriam ser equiparadas ao legado de Martha Graham
para a história da dança Moderna. Visto que ambos dançarinos foram os
pioneiros que estabeleceram um método específico de ensino-aprendizagem
de técnicas de dança distintas, mas que originalmente eram
caracterizadas e valorizadas, quase que exclusivamente, pelos seus
estilos livres e improvisados.
As evidências históricas
sugerem que Nascimento do Passo foi o primeiro passista brasileiro a
mergulhar profissionalmente na arte de dançar e ensinar o passo. Foi ele
quem fundou a primeira Escola de Frevo do Brasil e estabeleceu um
método de ensino-aprendizagem da arte de dançar-ensinar o frevo.
Nascimento logo compreendeu que a espontaneidade, versatilidade, e
musicalidade do passista qualificado dependia da aquisição de uma
técnica corporal específica da dança do frevo. Técnica esta, que
precisaria ser praticada diariamente, para que fosse assimilada tanto
pelo intelecto quanto cinesteticamente, pelos músculos, sangue e poros
do corpo. Por valorizar a técnica do passo, tanto quanto a criatividade e
a espontaneidade que dela brotam, o Mestre Nascimento decidiu incluir,
nas apresentações da sua escola de frevo, uma seqüência introdutória,
quase que coreográfica, dos passos básicos do frevo antes do momento
apoteótico dos solos individuais e de improvisação dos passistas se
sucederem um após outro. Ao fazer isso, Nascimento se distanciou da
antiga visão folclorista reinante e, por isso mesmo, foi incompreendido e
muito criticado por todos aqueles que acreditavam que o frevo é uma
dança ‘improvisada’ por excelência, e pressupunham que o estudo da
técnica da dança prejudicaria a espontaneidade e criatividade dos
movimentos, ao invés de facilitá-los.
A história demonstra que
Nascimento sempre esteve vivendo à frente do seu tempo, e por isso
mesmo, têm levado à reboque e com muita garra, todos os que desacreditam
nos seus ideais à favor do desenvolvimento e valorização do frevo
pernambucano. É importante lembrar que quando a sua Escola Recreativa de
Frevo Nascimento do Passo foi fundada no Ibura, Recife, a 27 de janeiro
de 1973, o frevo e o passo estavam atravessando uma fase inglória de
desvalorização e decadência. Acreditava-se que ambos estavam condenados à
extinção. Dois dias antes da inauguração daquela escola, um jornalista
anônimo do Diário de Pernambuco considerou a iniciativa de Francisco do
Nascimento Filho, como “um protesto isolado contra a extinção da dança
do frevo” e considera-o como sendo “o último passista clássico de
Pernambuco”.
Nascimento contou em entrevista que, muitos dos
seus vizinho no Ibura, comentavam que ele tinha endoidado, visto que ele
derrubou paredes da sua casa para ampliar o espaço onde as pessoas
pudessem dançar e aprender o passo do frevo. Nascimento relembra que,
devido a impopularidade do frevo, em suas aulas, ele primeiro tocava os
ritmos da moda, tais como: o iê, iê, iê e o rali-gali, para as pessoas
se sentirem atraídas e começar a dançar, e só quando todos já estavam
aquecidos ele introduzia o ritmo do frevo e convidava a todos para
realmente ‘fazer o passo’. As suas aulas eram grátis pois a sua intenção
primordial, desde os primeiros tempos, sempre foi a de formar um grupo
de dança, capaz de mostrar à sociedade não só a beleza artística do
frevo, como também os efeitos benéficos que esta dança proporciona para o
desenvolvimento e bem-estar geral dos seus praticantes (sejam estes
crianças ou adultos).
Além dos benefícios a níveis físico e
psicológico o trabalho artístico-pedagógico do Mestre Nascimento também
trouxe inestimáveis benefícios sociais. O Mestre está totalmente
convencido de que a prática regular do passo libertou muitos meninos e
meninas de vícios diversos e até da prostituição. O Mestre explica que
quando os meninos se apaixonam pelo frevo “eles não querem mais saber de
cheirar loló, de cheirar cola ou de pichar muros. Eles deixam de fazer
parte da gangue de antigamente”. Por mais de duas décadas, em todos os
subúrbios onde morou na região metropolitana do Recife e de Olinda,
Nacimento costumava reunir aqueles meninos e meninas desocupados e
ociosos da redondeza, que não estavam matriculados em escolas ou não
queriam mais estudar, e os transformava em pessoas dedicadas a uma
atividade e engajados num grupo social. Nascimento confessa que dar
aulas para crianças, adolescentes e adultos da periferia é um dos
trabalhos que mais gosta de fazer na vida, pois foi nas comunidades
pobres onde ele sempre descobriu, em suas próprias palavras, “elementos
fantásticos” - meninos e meninos talentosos, que se identificam e
aprendem rápido a magia da dança do frevo.
Paralelamente a este
trabalho com as crianças de periferia dos inúmeros bairros onde morou,
Nascimento também ministrou o passo em várias escolas estaduais, como
parte do projeto Danças Populares Pernambucanas concebido por Leonardo
Dantas e Silva em 1975. Nascimento explica que, naqueles
estabelecimentos onde o frevo era introduzido como disciplina
extra-curricular, era muito difícil encontrar alunos realmente
interessadas em praticar o frevo regularmente e fazer parte de um grupo
para apresentações, pois as crianças que frequentam tais escolas, estão
preocupadas em estudar outras matérias. Então, no meio do recreio era
oferecida a atividade das “danças folclóricas, que a criança participa
mas não se integra” – explica o Mestre.
Outras duas importantes
fontes propagadoras das danças nordestinas - além da fundação da Escola
Recreativa de Frevo Nascimento do Passo em 1973 e da realização do
projeto Danças Populares Pernambucanas em 1975 - foram o Balé Popular do
Recife (BPR) e o Grupo da Escola Assis Chateaubriand (GEAC). Com o
surgimento destes dois primeiros grupos profissionais de dança do
Recife, no final da década de setenta, o passo começa a ser praticado
regularmente e exibido para as mais variadas plateias no Recife e em
outras cidades do Brasil e do exterior. Nascimento do Passo e Arnaldo
das Neves (Coruja) foram os dois professores da dança do frevo que
ensinaram as primeiras gerações do BPR e GEAC. Por isso, não seria um
exagero afirmar que a maioria dos profissionais do frevo no Recife,
recebeu, seja direta ou indiretamente, benefícios do trabalho artístico e
pedagógico do Mestre Nascimento. De fato, é difícil encontrar um
passista profissional, talentoso e renomado, que não tenha bebido na
fonte do método do Mestre Nascimento – seja direta ou indiretamente.
Pois em Pernambuco a maioria das pessoas ou aprendeu o passo praticando
diretamente o Método Nascimento do Passo com o próprio mestre ou com um
dos seus instrutores ou com um dos seus inúmeros ex-alunos que passaram
posteriormente a lecionar.
Outro significante acontecimento na
história do passo em Pernambuco foi a iniciativa do prefeito do Recife,
Jarbas Vasconcelos de inaugurar, em março de 1996, a Escola Municipal
de Frevo. Esta porém não foi, e nem deve ser compreendida como sendo, um
‘presente’ espontaneamente doado pelo Prefeito Jarbas aos cidadãos
pernambucanos. Pois a inauguração daquela escola municipal foi sim mais
um resultado positivo da luta deslanchada pelo Mestre Nascimento, que
não só sugeriu como persuadiu continuamente, por anos a fio, o prefeito
Jarbas a fundar tal escola de frevo com o suporte financeiro da
Prefeitura.
Desde o início da década de noventa, Nascimento já
havia começado a sua batalha de persuasão junto ao Prefeito Jarbas
Vasconcelos para a construção daquela escola; e todas as vezes que se
encontrava com Jarbas, em Congressos, eventos turísticos, etc,
Nascimento aproveitava a oportunidade para tocar no assunto e
convencê-lo da ideia: “Prefeito, a fundação de uma escola municipal de
frevo será um dos pontos mais fortes e inesquecíveis da sua
administração”. A ‘perseguição’ e insistência de Nascimento foi tanta,
que o Prefeito Jarbas, na ocasião do seu discurso de inauguração da
Escola Municipal de Frevo, depois de ter dito aos presentes que estava
muito satisfeito com a inauguração daquele espaço, pois o mesmo
fortaleceria uma das expressões artísticas mais representativas do nosso
Estado, confessou em tom de desabafo: “mas eu também estou satisfeito
pois assim vou me livrar das cobranças de Nascimento” [risos da
platéia].
É importante esclarecer que embora a Escola
Recreativa de Frevo Nascimento do Passo tenha sido fundada mais de duas
décadas antes da Escola Municipal de Frevo, esta última foi, de fato, o
primeiro estabelecimento especializado no ensino-aprendizado da dança do
frevo em Recife. A Escola Recreativa de Frevo Nascimento do Passo
embora pioneira nunca teve uma sede própria, ou um local adequado onde
alunos e professores de passo pudessem desenvolver as suas atividades.
Ela sempre foi uma escola itinerante, e por isso seria mais apropriado
considerá-la como sendo sinônimo do método de ensino-aprendizagem do
passo de frevo, que o Mestre, seus monitores e alunos praticam numa
variedade de lugares, incluindo ruas, praças, campos de futebol, clubes
sociais, escolas municipais e estaduais.
Quando, em março de
1996, a Escola Municipal de Frevo começou a funcionar regularmente com
cinco turnos diárias de aulas de passo, ministradas nos períodos da
manhã, tarde e noite, Nascimento passou a trabalhar tempo integral
naquela escola, primeiro como professor, e após um ano, aproximadamente,
como Vice-Diretor. Por conseguinte, Nascimento teve que parar de
ensinar nas escolas municipais e estaduais, onde havia trabalhado por
mais de uma década e também teve que suspender as aulas de frevo com as
crianças e adultos da Rua Córrego José Grande, último subúrbio onde
morou antes de se mudar para a Rua José Marinho Reis, em Campo Grande,
para ficar mais perto do seu novo local de trabalho. E obviamente sua
Escola Recreativa Nascimento do Passo passou a existir juntamente com a
Escola Municipal de Frevo.
Como a maioria, quase que absoluta,
dos professores que ensinam na Escola Municipal de Frevo, desde a sua
fundação aos dias de hoje (2003), não só aprenderam a dançar e a ensinar
o frevo com Nascimento, como também aplicam o método de Nascimento em
suas aulas. E, considerando que o grupo de dança da Escola Recreativa
Nascimento do Passo sempre foi composto dos alunos devotos que praticam
frevo regularmente com ele, houve uma espécie fusão de grupos das acima
citadas escolas de dança do frevo. Em outras palavras, eu verifiquei que
os passistas que pertencem ao “grupo específico” das apresentações da
Escola Municipal de Frevo e da Escola Recreativa de Frevo Nascimento do
Passo são de fato as mesmas pessoas. Quando eles estão dançando em
apresentações marcadas através de ofícios enviados pela Secretaria de
Educação e Cultura do Município, eles são considerados membros do grupo
específico da Escola Municipal de Frevo; e quando estão participando de
apresentações marcadas pelo Mestre Nascimento do Passo, são os passistas
da Escola Recreativa de Frevo Nascimento do Passo.
Este
detalhe é importante que seja compreendido para que sejam evitadas
críticas infundadas ao Mestre Nascimento. Como por exemplo, a de que ele
está querendo sobrepor o seu nome ao de uma escola pública. Ou a de que
ele não é grato ao apoio que recebe dos órgãos públicos. Mas a verdade,
que muitos desconhecem, ou não têm o discernimento ou a humildade
necessária para admitir, é que o Mestre Nascimento do Passo foi de fato
uma peça primordial na fundação da Escola Municipal de Frevo, e por isso
mesmo não poderia se conformar com um cargo menor do que o de Diretor
ou Presidente daquela escola. Nascimento do Passo tem liderado uma luta
pelo desenvolvimento e valorização da arte do passo pernambucano como
ninguém mais o fez. Ele tem dedicado sua vida à esta causa e também
àquela escola municipal de frevo.
A história tem nos mostrado
que a fundação da primeira escola de frevo do Recife do Mestre
Nascimento, e a criação do seu método pioneiro de ensinar-aprender passo
foi o combustível mais poderoso que manteve acesa a chama da arte do
frevo nas mais adversas conjunturas históricas. Foi principalmente
através do método de ensino de Nascimento, que o conhecimento artístico
corporificado da dança do frevo pode ser transmitido às novas gerações, e
conseguiu não só sobreviver como florescer, se ramificar em escolas
distintas de frevo, com estilos específicos de dançar, criar e
re-interpretar o frevo. Consequentemente, a técnica do passo veio sendo
gradualmente aperfeiçoada, e o léxico de movimentos daquela dança
amplamente expandido. Como resultado, a respeitabilidade e a qualidade
artística das apresentações de frevo têm aumentado à olhos vistos em
Pernambuco, na mesma proporção em que tem desaparecido o estigma desta
dança ser considerada como uma ‘mera’ dança de carnaval, ou dança de
rua.
No entanto, é lastimável observar que a importância
histórica, social e artística do trabalho pioneiro de Nascimento
continua a ser ignorada ou subestimada ainda hoje. É verdade que
inúmeras homenagens têm sido prestadas ao Mestre Nascimento por vários
representantes políticos de direita, centro e esquerda. Inclusive o
título de Cidadão Pernambucano foi lhe dado pela Assembléia Legislativa
no dia 28 de fevereiro do 2000, como sugestão do então deputado estadual
João Paulo do PT. No entanto, aqueles que observam de perto, o
desenrolar dos fatos, tem motivos para questionar se tais homenagens são
legítimas ou demagógicas...
Por que será que nenhum dos
prefeitos, Jarbas Vasconcelos, Roberto Magalhães e João Paulo, tiveram a
sensatez de confiar à Nascimento o cargo de Diretor da Escola Municipal
de Frevo? Mais ainda, além de não terem entregue o cargo de Diretor ao
artista mais qualificado e merecedor daquele cargo, resolveram
arbitrariamente trocar o nome daquela escola para Escola Municipal
Maestro Fernando Borges – mesmo sabendo que ali não se ensina a música
do frevo, mas sim o passo. Se aquela escola municipal de frevo foi um
dos mais belos frutos da história de luta de um Mestre do Passo porque
não chama-la de Escola Municipal de Frevo Mestre Nascimento do Passo?
Enquanto historiadora da dança pernambucana eu quero deixar registrado
aqui a minha opinião e protesto, e quero ressaltar para todos os
políticos e cidadãos pernambucanos que a história do passo jamais poderá
ser escrita satisfatoriamente, se o trabalho artístico do Mestre
Nascimento do Passo não for reconhecido e avaliado em profundidade, pois
ele é um dos grandes personagens vivos da nossa história. Mais ainda: é
importante que tenhamos em mente que cada momento de vida, é um momento
histórico, em potencial. O futuro se constrói através das nossas ações
diárias, e as verdadeiras homenagens, dignas desse nome, não se prestam
somente com meras palavras proferidas em momentos oportunos, mas sim com
ações concretas de reconhecimento e respeito.
Se aqueles que
hoje detêm o poder político quiserem prestar uma verdadeira (não uma
demagógica) homenagem à um artista popular, como Francisco do Nascimento
Filho, que continua cheio de vida, ideais e projetos a serem
realizados, eles têm que somar forças à luta de Nascimento, para
concretização de seus ideais – que não são outros além dos nossos. Eles
têm que, no mínimo, oferecer ao maior propagador do frevo pernambucano,
com mais de 50 anos de experiência profissional na área do ensino da
dança do frevo, o direito de não só dirigir como presidir a, por eles
denominada, Escola Municipal Maestro Fernando Borges – mas que de fato
sempre existiu como um desdobramento da Escola Recreativa de Frevo
Nascimento do Passo. Se assim for feito, acredito, veremos que o passo
pernambucano poderá florescer e se propagar numa velocidade muito mais
acelerada da que já vemos acontecer hoje em dia.
Para
Nascimento, nunca existiu limite de tempo e energia que ele acha que
pode e deve gastar (e também persuade outros a fazer o mesmo) para
alcançar o quer que possa trazer benefícios para o passo e passistas
daquela (sua, nossa) Escola Municipal de Frevo, na qual trabalha desde a
sua fundação. Diferentemente de todos os outros que apenas trabalham
profissionalmente em prol do frevo, aventuro-me a dizer que, para
Nascimento, o frevo é o que dá significado à sua vida, é o que faz a sua
vida digna de ser vivida. Frevo não é somente a sua ideologia – que ele
acredita que tem o poder de melhorar o mundo (individual e coletivo),
mas também é a sua oração. Nascimento acredita que a pureza que o
praticante pode encontrar através dessa arte do movimento da dança do
frevo é tão imensa que a pessoa pode dizer diariamente, antes de dormir e
ao acordar: “Deus, cuide da minha alma e o frevo, do meu corpo”, que se
sentirá bem mais protegida. Porque, como ele explica: “A alma, o
espírito e toda sabedoria vem de Deus. Mas ele nos fez com braços e
pernas e disse que ele tinha nos criado à sua imagem e semelhança e que
precisamos descobrir aquilo que precisamos para nos sentirmos mais
fortes e saudáveis, pois nós somos feitos de carne e osso, não é mesmo?”
Tal como o vejo, NASCIMENTO É O MAIOR GUERREIRO DO FREVO DE TODOS OS
TEMPOS. Um artista-lutador que, quase sempre trajado em seu
uniforme-de-guerra, batalha contínua e incansavelmente, com paixão e
fúria, determinação, honestidade, otimismo e coragem por um número de
causas nobres em prol desta dança multifuncional. Enfim, ninguém no
passado ou presente, tem feito mais pela dança do frevo do que o Mestre
Nascimento do Passo.
PS: É triste observar que poucos anos
após ter sido exonerado do cargo de vice-diretor, e de ter sido
injustamente difamado Nascimento faleceu. Mas seu espírito vive toda vez
que um frevo é tocado e dançado com garra, criatividade e amor.
Maria Goretti Rocha de Oliveira, é Bacharel em Ciências Sociais
(UNICAMP) e Mestre em História (UFPE), e autora do livro"Danças
populares como espetáculo público no Recife de 1970 a 1988". E MPhil,
Mestre em Dança (University of Surrey, Guildford, Inglaterra).