Publicado em 09/04/14.
Artigo
de opinião
Ao observar a
repercussão de uma frase que gerou alguns comentários nas redes sociais durante
o carnaval passado, fui levado a acreditar que seria necessário neste momento,
esclarecer a alguns desavisados de plantão, o real significado da expressão “pinta”
no frevo e outros termos que utilizo nos textos que
escrevo no site dos Guerreiros do Passo. Buscarei explicar aquilo que deveria
ser naturalmente entendido e que foi intencionalmente interpretado de forma
imprudente, inclusive, para agregar pessoas que são facilmente influenciadas
pela opinião dos outros.
Percebo que há uma
carência extraordinária em algumas pessoas que, até de uma pequena frase se utiliza para
chamar a atenção, já que a coisa está ficando cada vez mais difícil na sua dança visto o alto grau de mediocridade de suas atuações. Daí, a procura por diferentes caminhos de evidência, muitas
vezes às custas de outras pessoas e por enfoques banais.
Foram capazes de
insinuar até mesmo homofobia a partir da expressão “Chega de
pinta!”, utilizada aqui na página. Notem que num universo de mais de 150 textos
publicados no site dos Guerreiros, houve o apego especifico e proposital de uma
frase curta, tentando aproveitar a oportunidade para incitar polêmica. Só
por isso, percebemos o nível de maledicência de certos indivíduos, que, aliás,
nunca mereceram absolutamente nenhum respeito por este autor. Gente
“articulada” e construída no frevo através de apegos políticos, que vez ou
outra transitam no universo das relações e benesses governamentais. Entretanto,
isso não é o mote deste texto, visto que adentra num aspecto específico, o da
ética. Se não me engano, também falaram de falta de ética por minha parte. Vai
entender...
Outro aspecto a ser
levado em consideração, é a falha de interpretação dos textos publicados,
faltando compreender a mensagem que está por trás do que é dito, daquilo que é
realmente relevante para o assunto. Em outras palavras, caracteriza deficiência
de entendimento da linguagem.
Quando se fala em
“pinta”, em “pernão” ou em “robô” na dança do frevo, não se quer mencionar a
conduta ou orientação sexual de nenhum indivíduo e nem provocar ato
discriminatório sobre um determinado estilo coreográfico. Quem fizer
observações neste sentido estará sendo leviano, irresponsável e provando o seu
completo desconhecimento daquilo que se quer questionar.
Das vezes em que
utilizei nos textos expressões do tipo mencionadas acima, fiz por uma atitude
de buscar a atenção de um público disperso e pouco atento, e uma maneira
razoável para alertar sobre um tema que, a meu ver, necessitaria de
questionamentos aprofundados. Tem coisa mais interessante para chamar a atenção
de uma determinada classe artística do que utilizar como espelho o seu próprio
vocabulário e comportamento comuns? Pelo visto funcionou!
Ninguém pode negar
que o neologismo é uma prática habitual dos passistas de hoje. E “pinta”,
“pernão”, e “fechação”, são exemplos dessas invenções esdrúxulas, criadas com a
intenção de transformar movimentos de dança de relevância menor em espetáculo,
encobrindo com isso, a falta de criatividade nesse campo artístico.
Para aqueles que
ainda não entenderam, o assunto é essencialmente sobre a qualidade do movimento
em execução, sobre o aspecto da concepção de floreios coreográficos
desnecessários, com o intuito de demonstrar um melhor desenvolvimento na sua
dança através de mecanismos alegóricos meramente descartáveis. Alguns tentam justificar
o ato como se fosse a real liberdade no frevo, como se simples efeitos repetitivos
fossem grandes inovações e uma nova onda do passo. Tudo bem, qualquer indivíduo faz o
que quer, todavia, não venham dizer depois que o livre-arbítrio do passista é
ter o poder de reproduzir apenas o que os outros fazem, negando a singularidade
tão disseminada nessa dança. Muitas vezes, a busca frenética por chamar a
atenção é o caminho mais curto.
Hoje, ninguém cria
mais passos, e a ausência de capacidade inventiva nesse setor, estimula o
fenômeno das “pintas” que, intencionalmente vem sendo encoberto por discursos
e opiniões sem uma argumentação plausível. E a busca pela espetacularização
está sendo empregada até nos figurinos dos passistas, Confeccionados atualmente
com a preocupação de expor modelitos cada vez mais extravagantes, fazendo
alusão antes de tudo a Banda Calypso do que qualquer outra coisa. Se
antigamente a versatilidade e a desenvoltura do passista era o que chamava a
atenção, hoje em dia os trajes estão ganhando cada vez mais destaque em
detrimento ao que realmente carece de aperfeiçoamento.
Tomando como
referencia o movimento do Passinho nascido no Rio de Janeiro, fenômeno cultural
de valor indiscutível, a preocupação dos seus praticantes consistiu no
enriquecimento de uma relação entre dois ritmos urbanos do país, visando a
valorização de ambos através da dinâmica da cultura popular. Muitos podem até
não gostar e querer desmerecer sua importância, mas, o que se quer mencionar é
o profissionalismo de quem o faz. O talento deles e o interesse do público de
lá geraram grandes investimentos e os resultados estão ai, a galera já disse
para que veio e está fazendo história.
Aqui, na terra do
frevo, os seus praticantes, não cito os foliões em geral e nem os leigos, mas,
os que se dizem "referência" no gênero, o que estão fazendo?
Gostaria que eles tivessem a mesma capacidade inventiva e sagacidade, ao invés de conversas tolas de "limpeza de passos", de querer inserir movimentos do balé clássico na dança e, mais recentemente, estimular a disputa ridícula de "peitação do frevo". Na verdade hoje em dia, o mais importante não é o passo, e sim, a pose.
Gostaria que eles tivessem a mesma capacidade inventiva e sagacidade, ao invés de conversas tolas de "limpeza de passos", de querer inserir movimentos do balé clássico na dança e, mais recentemente, estimular a disputa ridícula de "peitação do frevo". Na verdade hoje em dia, o mais importante não é o passo, e sim, a pose.
Com base nessas
considerações, não se deve conduzir a questão pelas noções de certo e errado,
mas, pelas apreciações de adequado e inadequado, que são mais convenientes e
exatos, porque refletem a prática da dança nos mais diferentes contextos
sociais em que seus fazedores estão inseridos. Quando digo “chega de pinta”, me
refiro ao estado em que se encontra a nossa dança, ao marasmo que tem se
tornado a prática do frevo na maioria dos grupos e ambientes que lidam com o
ritmo, e a inércia dos seus “professores” que se fazem de cegos, fingindo que
isso é uma coisa natural e esquivando-se daquilo que necessita de
questionamentos. Quem não concorda com as abordagens, tudo bem, eu respeito
isso, no entanto, ninguém pode impor a defesa daquilo que não acredito. E isso
é uma apreciação de quem vê no frevo a possibilidade de alcances mais amplos.
Das vezes em que me
reportei sobre dançarinos robotizados do frevo, relacionei o passista que
executa o que os outros sugerem ser a “moda” ou a “verdade” deles, como robôs
que reproduzem os comandos dos seus donos. Se alguém em determinado momento faz
um giro, salto ou um efeito corporal próprio, e se esse por sua vez for um
“artista” que apresenta certa simpatia entre os seus colegas, a partir daí,
todos os outros seguem na imitação, copiando seus modos, transformando as ruas
e o carnaval num balé indistinguível que nos impulsiona a pensar que o frevo
pode ser mais, ele é mais! É distinção, oposição, contrastes, é indescritível,
é acima de tudo, plural sem deixar de ser individual.
Infelizmente,
percebemos que ninguém está disposto a debater seriamente o ritmo. Para dar um
exemplo, podemos citar a celeuma criada sobre um possível boicote no Concurso
de Passistas de 2014. Muita gente falou, retrucou e nada. Chegaram até a criar
uma página no Facebook para angariar adeptos para a causa. E o que assistimos?
Apenas um dançarino se fazendo presente pondo sua fala realmente em prática.
Isso é uma prova inquestionável da falta de comprometimento dos passistas com a
sua arte. É por essas e outras que a classe não tem credibilidade para
enfrentar suas demandas. Falta ação real, compromisso.
Não podemos esquecer
também, que um dos mais tradicionais espaços de propagação do frevo na cidade,
idealizado pelo grande Mestre Nascimento do Passo, está praticamente sucateado e
esquecido. E em nenhum momento vi repercussão dos seus fiéis integrantes sobre
o caso. Onde estão os tais fervorosos defensores das “pintas”? Por que eles não
demonstraram sua revolta em favor da tal Escola? Fizeram o quê? Estão
preocupados com o frevo ou com seus próprios umbigos? Enquanto isso, os bobos
de plantão ficam a espreitar a próxima publicação com uma nova palavra ou
expressão neologista, com o intuito de utilizar-se dela, para, novamente,
desviar o assunto e chamar a atenção para si.
Sei que minhas
opiniões não agrada muita gente, porém, isso nunca foi motivo de preocupação,
pelo contrário, sinto-me estimulado cada vez mais ao perceber que as discussões, muitas vezes
originadas no site dos Guerreiros do Passo, tomam as cabeças de certos
“dançarinos”, apesar de que ainda seja para tratar os temas de maneira
superficial e pouco profissional, todavia, já é um bom começo fazer pensar.
Por outro lado, fica claro também, que quem apresenta uma opinião mais contundente, não necessariamente preocupando-se em agradar com seus escritos os que se acham verdadeiros “baluartes” da dança local, acaba provocando certa antipatia entre eles.
Por outro lado, fica claro também, que quem apresenta uma opinião mais contundente, não necessariamente preocupando-se em agradar com seus escritos os que se acham verdadeiros “baluartes” da dança local, acaba provocando certa antipatia entre eles.
Não sou o dono da
verdade e nunca pretendo sê-lo, apenas, me sinto no dever de discutir o mundo
artístico do qual faço parte e tentar contribuir de alguma forma com minha
atuação e com o que escrevo. E isso nunca foi falta de ética! Quem não achar
conveniente, que abra seu espaço e fale também, se pronuncie, deixe de omissão,
pare de entrar nas conversas apenas quando é para a apresentação de discussões
infantis e inúteis. Enquanto perdem seu tempo com conversas vãs e discursos
tolos, o mundo transforma sua arte e se apodera dela de forma mais competente.
É por essas e outras que continuo dizendo: CHEGA DE PINTA!
Eduardo Araújo
Radialista, fundador e coordenador dos Guerreiros do Passo
Radialista, fundador e coordenador dos Guerreiros do Passo