NAS AULAS DOS GUERREIROS A GRANDE ESTRELA É O FREVO!

Veja algumas imagens e tire suas próprias conclusões.

UNIÃO ENTRE PASSISTAS, É POSSÍVEL?

OPINIÃO. Fala-se muito da necessidade de ver um dia a tão esperada união entre os passistas de frevo.

A FORÇA DA CAMISA AZUL

Nas aulas do Projeto Frevo na Praça, já foi possível observar que os professores dos Guerreiros do Passo, utilizam nos seus encontros semanais no bairro do Hipódromo...

MAX LEVAY REGISTRA OS GUERREIROS DO PASSO

O pernambucano Max Levay, profissional de reconhecido talento da arte da fotografia, fez um bonito registro dos Guerreiros do Passo no último mês de março. O artista produziu...

FOCO NO APRENDIZADO

Hoje em dia a busca por um melhor condicionamento na arte desenvolvida pelos famosos passistas de frevo, tem levado alguns praticantes a sair por ai pulando de aula em aula...

News - Guerreiros pretendem retornar às atividades abertas ao público ainda este ano/ Este site vai entrar em manutenção.

FESTA DO FREVO!

Neste sábado (21/11) os Guerreiros do Passo entraram no clima do grito de carnaval do Bloco da Saudade.
O grupo levou um contingente dos participantes do seu Projeto realizado na Praça do Hipódromo, e todos tomaram o espaço central do salão da AABB, mostrarando como o frevo de rua pode conviver normalmente num ambiente dos blocos de pau e corda. Foi tudo maravilhoso!

Mais um registro do grupo Guerreiros do Passo

Passistas do grupo Guerreiros do Passo participaram neste domingo (15/11) pela manhã, da realização de uma filmagem para a produção do Maestro Spok. O Pátio do Livramento, no centro do Recife, foi o local onde aconteceram os trabalhos.




O IMPROVISO NO PASSO

Publicado em 06 de novembro de 2015.


Artigo de opinião
A cada nova imersão no universo da dança do frevo surgem questionamentos que necessitam ser investigados e esmiuçados de uma melhor maneira no conjunto dos seus fazedores. E entre os assuntos, um merece destaque atualmente: o IMPROVISO. Sendo um tema que hoje em dia é quase impossível não ser tratado na produção da dança moderna, entre bailarinos, coreógrafos e no meio acadêmico.

A ideia deste texto nasceu da necessidade de dar melhor vazão a um ponto específico da metodologia do Mestre Nascimento do Passo, a qual os Guerreiros do Passo utilizam em suas aulas no Projeto Frevo na Praça, no bairro do Hipódromo.
Como todos sabem, os professores do grupo difundem bastante a importância do artifício improvisacional do passista no ambiente da roda. O que muita gente sugere, erroneamente, é que isso só é feito apenas nesse momento particular, assegurando ser a única ocasião onde se vê na prática o trabalho de improvisação que o grupo tanto propaga. O equívoco de entendimento traz à tona discussões acerca da qualidade da metodologia do Mestre e sua importância como elemento formativo para a dança do frevo.

Convivi com o Mestre entre os anos de 1997 e 2008, sendo um dos seus discípulos, e nunca vi e nem presenciei ensinamentos que tolhia a INTERPRETAÇÃO PESSOAL do dançarino. Pelo contrário, o momento da “roda” era uma grande festa e um espetáculo de distintas formas de fazer o passo. Lembro também de um fato que, inclusive, tem reprodução atualmente no projeto desenvolvido pelos Guerreiros, que é o estímulo dado à audição dos frevos, realizado com treinamentos específicos para o aluno entender os diversos floreios e nuances característicos de cada composição. Esse assunto sobre a audição da música, será melhor explicado mais adiante no texto.

Antes de aprofundar no tema, gostaria de ressaltar uma questão, a cerca do grau de improvisação alcançado pelos alunos no Projeto Frevo na Praça, mantido pelos Guerreiros do Passo. É preciso dizer que isso depende fundamentalmente de sua frequência e assiduidade nas atividades do grupo, sendo também, fator preponderante para o seu progresso como um todo na dança do frevo. Aqueles que visitam esporadicamente as aulas, muitas vezes só como uma prática de atividade física eventual, talvez não ofereçam um parâmetro razoável para uma análise qualitativa. Ou seja, participantes com maior dedicação no Método, poderão receber de forma mais eficaz uma apreciação quanto ao seu aperfeiçoamento nesta dança. Quem empreende esforço com constância pode conseguir resultados satisfatórios. E naturalmente, o improviso é um desdobramento desse comprometimento.

O aluno, antes de chegar na roda, passa pelos 40 movimentos do Método, (Sistema de passos do frevo organizado pelo Mestre, conectados de forma crescente em seu grau de dificuldade). O participante é levado a exercitar a técnica em todos os encontros do grupo. O aluno vai descobrindo seu ritmo, sua força, obtendo a devida coordenação motora. Por outro lado, o grupo de professores avalia a aptidão, resistência corporal, e o nível coreográfico, ajustando, quando necessário, a sequência do Método com constante apelo de criatividade na condução das aulas. As adaptações visam atingir de maneira razoável todos os envolvidos no projeto, sem desvirtuar, claro, da obra do Mestre Nascimento.

O comando repetido dos movimentos da metodologia nas aulas, que para alguns parece maçante e tediosa, é a maneira que Nascimento do Passo encontrou para produzir resultados nos seus discípulos. Segundo a passista e professora Lucélia Albuquerque:

““... quando se fala da dança e seu ensino, acreditamos que é necessário sim um mínimo de organização, intencionalidade, objetivo.
Não necessariamente a palavra “comando” quer dizer “limitação”, “aprisionamento”. (Fragmento de comentário extraído de página na internet: https://oespacodopasso.wordpress.com/2013/05/07/sobre-frevo-e-gaiolas/#comments)

O diálogo no ambiente de ensino muitas vezes não precisava acontecer em intervalos específicos. O contato do professor com o aluno ocorria e ocorre hoje, por meio de uma aproximação no andamento das atividades. Um “toque” rápido aqui e acolá para que ele possa entender como fazer melhor, perceber se os braços e o Pontinha de pé necessitam de uma maior energia, ou deve fazê-lo mais lento ou mais acelerado. Como se dá as alterações nos diversos planos de execução dos passos, se se faz um movimento como a Tesoura ou o Pisando em brasa em plano médio, e como mudar para um plano baixo para fazer o Tesourão ou Plantando mandioca, de que maneira interligá-lo a um salto ou giro no ar, por exemplo. Essas orientações fazem parte da aula e estão intrínsecas na metodologia do Mestre, inclusive, no que ele convencionou chamar de Famílias dos Passos (conjunto de movimentos conectados com ligação lógica).

O compromisso com o fazer bem feito o movimento é notório nos professores, por isso, a preocupação permanente de se observar a execução do passo, por exemplo, se os ombros do passista devem ficar arqueados ou esguios; como fazer as transferências de peso nos descolamentos laterais; se os artelhos deverão ser trabalhados naquele instante ou não, isso tudo, é claro, preocupado ainda com a preparação física do aluno, se ele suporta um pouco mais de carga de exercícios, ou deve parar e retomar em seguida, se a exaltação dele está impulsionando-o a fazer determinada acrobacia, correndo o risco de comprometer suas articulações e estruturas ligamentares. E ai reside a importância da metodologia de Nascimento do Passo, comparada a outras maneiras de trabalhar o frevo na cidade, possibilitando um amplo estudo desta dança e um facilitador para o aprendizado da mesma. Afinal, o frevo não é só alegria e brincadeira. É preciso ter responsabilidade com os corpos dos participantes, incluindo jovens, crianças e até idosos, que necessitam de um olhar específico em relação às suas estruturas corporais e limitações físicas.

Nos Guerreiros, assim como acontecia nas aulas do Mestre, o estímulo ao personalismo do dançarino é uma constante. Todos são levados a despertar unicidade em sua exibição, nada de copiar fulano ou sicrano. Confesso que na Praça do Hipódromo, onde realizamos as atividades do grupo, nunca aconteceu de alguém sentir-se influenciado a imitar os trejeitos de outro colega, mas, já houve casos quando ministrávamos aulas na Escola Municipal de Frevo, nos tempos áureos de Nascimento, mas logo em seguida era rapidamente resolvido.

E a roda, mostrada no Método na parte final dos trabalhos, é a ocasião em que é possível vislumbrar o que o aluno apreendeu e introjetou durante algumas semanas em contato com os instrutores do Projeto. Podemos analisar neste momento, a desenvoltura do participante e se ele apresenta alguma dificuldade ou até inibição que o desestimule a se soltar. Se a velocidade de sua dança condiz com o andamento do frevo executado. Perceber também, o seu estilo, buscando entender sua propensão a grandes saltos/pulos ou a graciosos agachamentos, ou até mesmo a combinação desses estilos. Isso ainda, sob o olhar atento de passistas mais experientes que permanecem interagindo no recinto, incentivando e revezando-se entre os alunos, buscando manter a empolgação e o entusiasmo da roda. É o instante de registrar os primeiros movimentos do passista rumo ao caminho que ele irá percorrer, estimulando sua busca por um trajeto particular e singular no frevo. Momento crucial para observarmos as habilidades de um provável improvisador.

Não adianta querer participar de duas ou três aulas, ler livros sobre “Contato Improvisação” e desejar que as transformações façam efeito. Um bom improvisador tem domínio proporcional à sua experiência no frevo. O problema é que muita gente mantém um olhar distante do ritmo, e vive a incorporar conceitos de dança contemporânea, entre outras, adotando modelos e técnicas que muitas vezes não se enquadram nas atividades propostas, justamente por que não foram concebidas para este gênero artístico.

Certa vez surgiu um questionamento: como esperar que passistas demonstrem características coreográficas singulares na roda, se as aulas dos Guerreiros são “padronizadas”? (a expressão “padronizada” aqui foi atribuída à repetição dos 40 movimentos iniciais da metodologia do Mestre). Buscarei fazer um comparativo um pouco mais próximo da realidade para tentar expor de forma mais clara a questão. Utilizando o exemplo do futebol, observamos que no treinamento dos jogadores, a comissão técnica do time realiza repetidas vezes, práticas de fundamentos e preparação física com o seu elenco. Pois bem, no dia do jogo oficial, as atividades em regra não restringem a capacidade criativa presente nos atletas. Neste caso, os treinos servem de aprimoramento das habilidades já reconhecidas nos jogadores. Quando o trabalho de preparação não acontece de modo como foi planejado, o risco é a diminuição dos resultados esperados. Portanto, trazendo o modelo para o universo do frevo, a forma como é esquematizada a parte preparatória das aulas, não reduz a liberdade de ser livre na roda. Pelo contrário, dá respaldo para aperfeiçoar tais aptidões.

O improviso na dança do frevo é desencadeado, sobretudo, pelo acumulo do repertório coreográfico que o dançarino adquire no processo da aprendizagem e da maturidade de suas habilidades. É quase impossível dizer que, no frevo, o improviso pode ser alcançado naturalmente por qualquer participante, sem que para isso seja necessário conhecimentos mais avançados. Ai vem à pergunta... Por que então não se dá a possibilidade ao indivíduo de chegar lá de forma mais rápida? Respondo fazendo outra indagação... Para quê? É possível desenvolver estilo próprio em poesia sem ao menos o autor ter um domínio suficiente da escrita? É primordial ter dedicação e tempo para as aquisições começarem a fazer o efeito desejado. Há passistas que chegam aos espaços das aulas já querendo improvisar, buscando mostrar um “jeitão” particular em suas apresentações, sendo regidos muitas vezes por um impulso exibicionista, sem ao menos ter a preocupação primeira de internalizar informações elementares do ritmo.

Digam-me, improvisar é, por exemplo, juntar elementos do Cavalo-Marinho, do Passinho do Rio de Janeiro ou do Balé clássico ao passo? Creio que seja bem mais do que isso, no entanto, já pude assistir “profissionais” propondo algumas interações exóticas, que muitas vezes mostram-se inconsistentes e pouco criativas. Vale salientar que a minha preocupação não é com amálgamas rítmicos, e sim, com uniformizações propositais que empobrecem o frevo.

Outro aspecto a ser levado em consideração, é a diferença entre a improvisação e a “munganga”. A habilidade de improvisar no passo é diferente daquilo que se vê comumente num “mungangueiro”, que apesar de em certo momento chamar a atenção pela forma curiosa de apresentação, caracteriza-se mais como uma saída para a sua pouca experiência ou incapacidade de assinalar passos mais elaborados. E não adianta querer usar trajes pouco comuns para se destacar perante o público, semelhantes aos utilizados pelos Guerreiros do Passo. O figurino não pode encobrir aquilo que o corpo não expressa. Evidentemente, existem passistas e foliões com tais propriedades de “mungangar”, porém, sendo isso a extensão de suas qualidades inatas e de seu norral artístico. São raros, mas existem.

Então, como explicar o porquê de dançarinos com longa vivência no frevo não apresentarem características singulares em sua dança? Justamente porque tais passistas negligenciam conceitos que os colocariam num lugar único, os individualizariam ante a tantos outros iguais. No mínimo, por ingenuidade, esses passistas acabam sendo influenciados por ideias cristalizadas de certos “professores” e pseudos “mestres”, que não acrescentam em nada, pelo contrário, põem o frevo equivocadamente no lugar de uma dança de movimentos limitados e preestabelecidos.

Não é difícil observar que alguns dançarinos quando estão fora do compromisso da exibição profissional, levam para os seus momentos de descontração no carnaval, e em demais ocasiões, as mesmas “sequências” e características do trabalho realizado nos seus grupos de origem. São os chamados robôs do passo, assunto que já foi tratado em texto anterior neste site. E lá, neste texto, chamo a atenção sobre a tendência de padronização no frevo, todo mundo faz os mesmos passos, do mesmo jeito, as apresentações parecem ser todas iguais. Contrariando isso, o escritor e folclorista natalense Luís da Câmara Cascudo, disse certa vez: "No mar do frevo, cada peixinho nada de seu jeito”.

Fazer o passo, e, principalmente, improvisar, é ter a capacidade de soletrar palavras em forma de movimentos, é compor frases, escrever linhas inteiras de modos e gestos próprios. Tem haver com aquilo que trazemos de memória pessoal, do que achamos da vida, pensamentos e potencialidades que entram em contato com o mundo exterior, e o que permitimos internalizar daquilo que vem de fora. E quanto mais exercitarmos, a dança irá se tornar cada vez mais natural e espontânea. Digo, improviso em frevo é como um recurso virtuosi do executor, de sua bagagem de conhecimentos e expressividade. Talvez podendo ser comparado aos arranjos de um buliçoso frevo de rua, mas, só um bom músico, conhecedor apurado de composição pode fazê-lo com maior primor. O resto é intenção de mostrar ao público aquilo que na verdade não inspira consistência.

E por falar em frevo de rua, não podemos esquecer de fazer referência a um tópico em especial no treinamento do passista: a AUDIÇÃO DO FREVO. A música é, essencialmente, um componente de destaque no exercício do passo. Se formos quantificar sua importância diria que constitui 50% de tudo que é realizado. Na verdade, é a complementação dos gestos e movimentos executados. É nela que encontramos esteio e inspiração para buscar acrescentar emoção e empolgação na dança. Nascimento do Passo já repetia: “O passista é o instrumento fora da orquestra”, complementam-se. O próprio Mestre estimulava seus alunos a perseguirem as diversas orquestras pelas ruas históricas de Olinda e Recife, sabendo ele, que esses encontros festivos do frevo, ofereciam uma ótima oportunidade para o treinamento dos ouvidos e dos pés dos passistas.

Segundo o Maestro Guerra Peixe, estudioso musicista que pesquisou o ritmo e o carnaval pernambucano por alguns anos, ao fazer referência ao passo do frevo, disse:

"... e aí encontramos um fenômeno único na música popular brasileira. É a única dança em que o dançarino dança a orquestração. Cada volteio de um instrumento é acompanhado por um passo ou uma firula (volteio, rodeio) do passista. É uma dança individual, com a maioria dos passos tradicionalizados, mas que cada um executa a sua maneira". (Dantas. Leonardo. Fragmento de texto publicado no Jornal do Commercio, Recife, em 31.03.2007).

Então, como “dançar na música”?
Incorporar a musicalidade do frevo ao seu passo não é uma tarefa fácil, haja vista o que temos notado por ai nas ruas e em apresentações do gênero. Todavia, não deve ser assim: Vai lá, dança no frevo! É preciso, sobretudo, empenho. Em termos práticos, e para entender melhor as diversas peças instrumentais do ritmo, o frevo-de-rua ou canção são basicamente compostos de perguntas e respostas, de notas curtas e longas, de paradas (breck), de sequências lentas e rápidas, de “contrastes bruscos”, e são nessas linhas características do ritmo que os bons compositores, como: Levino Ferreira, Zumba, Carnera, Lourival Oliveira, Toscano Filho, Eugênio Fabrício, Edson Rodrigues e Nelson Ferreira, entre outros, direcionam suas atenções. E o passista deve igualmente mirar seus ouvidos nesses aspectos, independentemente se são gravações antigas ou novas, variações ou até arranjos criados sob a influência do jazz. O passista deve entender em que momento responderá às mudanças súbitas da composição, ou a um rompante mais vigoroso de um arranjo. Se tem sentido executar saltos num determinado andamento do frevo, se a música está sugerindo isso (pedindo) ou não. Se uma série de movimentos deve ser quebrada em detrimento a um acorde mais cadenciado, e assim por diante.

No frevo, para improvisar, além de tudo que foi relatado acima, é indispensável escutar. Só um passista com a audição razoavelmente treinada pode transformar em êxtase aquilo que apreende os seus ouvidos. Ainda segundo Guerra Peixe, em texto publicado em 1959, escreveu:
“... os clubes contratam numerosos músicos, especialmente trombonistas, e com eles realizam ensaios primeiramente internos, e depois externos, a fim de que músicas antigas sejam recordadas e as últimas novidades sejam aprendidas pelos dançadores. Esses ensaios proporcionam o treinamento de passistas e, vale ressaltar, estes dançam não somente as marchas em si, mas dançam as melodias e as respectivas orquestrações, pois são as melodias e orquestração que sugerem os passos. Ritmo, melodia, orquestração e passo formam um todo na dança do frevo.”
(A Gazeta – São Paulo, 26 de dezembro de 1959).

Conhecer bem o frevo e estar atento aos seus diversos segmentos instrumentais, não apenas à sua marcação percussiva, é fundamental para o treinamento da audição, e isso, junto ao exercício de variados passos, constitui um todo que será decisivo para o passista imergir na dança do frevo, e até criar seus próprios movimentos, de maneira que poderá posteriormente escrever suas expressões e partituras corporais, transformando-se num dançarino notável, sem igual, único entre muitos. E a importância cultural e histórica do trabalho de Nascimento do Passo com a dança pernambucana e a atenção que ele deu às suas especificidades, como é o caso do Improviso, é de extrema necessidade salvaguardá-lo para outras gerações. E esse é o compromisso dos Guerreiros do Passo desde a sua fundação, disseminar sua arte a crianças, jovens e adultos, a praticarem uma dança que além de ser surpreendente, liberta, convida, arrasta, e acima de tudo, particulariza a presença do passista no seu espaço de atuação.

Certamente fazer reflexões num artigo sobre o ato de improvisar no passo, talvez seja pouco eficaz para a implementação dos conceitos apresentados. O que seria mais conveniente, é fazer o convite aos interessados a visitarem o espaço de atividades dos Guerreiros para mergulhar nesse rico universo da metodologia do Mestre Nascimento, estabelecendo um diálogo constituído sobre o seu legado cultural, e evitando com isso, que um olhar simplório e distante venha a desvirtuar e/ou tirar conclusões precipitadas sem ao menos o indivíduo ter uma experiência razoável dentro dessa técnica.

Por outro lado, determinar qual o lugar de onde deva permanecer o frevo, seguramente é um erro. E a intenção aqui não é definir “verdades absolutas”, ou ratificar uma opinião pessoal sobre aquilo que acredita ser o frevo “original” e “autêntico”. Abrir discussões sobre as padronizações que a atual globalização impõe a nossa cultura, talvez possa ser um caminho. Globalização essa que coloca as manifestações populares num mesmo lugar, onde as vontades, os gestos, linguagens e tradições do povo permaneçam num ambiente hermético, fechado, folclorizado, perdendo gradativamente a importância de suas riquezas artísticas e culturais.

Dessa forma, fica aqui a sugestão para o aprofundamento das discussões a respeito desse precioso tema, que é o Improviso no Passo, e de outras ideias, visando a construção de um debate mais amplo, para que o assunto em questão seja bem mais estudado não só na teoria, mas no dia a dia dos seus fazedores, e numa prática fundamentada na vivência e não somente no desejo mesquinho de querer ter algum reconhecimento dentro do frevo, sem estar minimamente embasado sobre a história do ritmo, do Mestre Nascimento do Passo e do seu Método.

Viva o Frevo!

Eduardo Araújo
Radialista, fundador e coordenador dos Guerreiros do Passo