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O lirismo de todos os tempos

Por Renato Phaelante*
Lirismo Maneira apaixonada, poética,de sentir, de viver; entusiasmo, ardor,
exaltação (in Aurélio)

De acordo com alguns pesquisadores, no início dos anos 20, apareceram, no Recife, os blocos e ranchos, que faziam a beleza e o encantamento dos carnavais da época. Aos poucos, os ranchos, foram desaparecendo da paisagem recifense, fortalecendo-se no carnaval carioca e, consequentemente, oferecendo espaço para o crescimento dos blocos no Recife.

Ambos – blocos e ranchos – desafiaram os modernismos e principalmente os blocos no Recife, preservaram suas características líricas, trazendo no bojo de suas letras, o saudosismo, a saudação, as figuras e símbolos, carregados de singularidades do cotidiano dessas cidades, além da poesia dos velhos e tradicionais pastoris, manifestação tão remota, oriunda de nossa colonização.

No Recife, esse lirismo nos blocos iniciou-se a partir dos festejos natalinos. Já registravam os pesquisadores que, no dia 24 de dezembro, os blocos saíam às ruas com as suas orquestras compostas de 30 a 40 metais, com seus coros de vozes sofridos, tocando e cantando as jornadas mais líricas. Daí, chamarem de jornadas, alguns dos cantos carnavalescos do Recife, por influência das jornadas dos pastoris.

Durante algum tempo, houve em meio aos blocos, grande esmero na desenvoltura dos seus naipes de cordas, principalmente quando, algum deles, provocava o outro à disputas, que se tornavam acirradas, evidenciando a beleza da musicalidade de cada um. Daí, a preferência popular, elegendo sempre a melhor orquestra de corda do carnaval daquele ano.

Os blocos transbordavam em lirismo no calor dessas disputas. E, foi esse estado puro e sentimental dos blocos que trouxe para o seu cordão, o elemento feminino, que até aquela época, não participava de forma ativa do carnaval de rua. Um carnaval tão belo nas suas nuanças características, mas também tão impulsivo quanto tempestuoso.

Hoje, em um mundo conturbado pela violência de todas as ordens, os blocos do Recife, preservam um lirismo que sobrevive, demonstrando a tranqüilidade de um carnaval onde as pessoas, independente de sexo, cor ou idade, podem se dar as mãos em busca da manutenção de um romantismo que não pode nem deve morrer.

Há que permanecer vivo, tal qual os relembra o nosso cronista maior Antônio Maria em uma de suas crônicas: Muitas vezes, de madrugada, o menino acordava com o clarim e as vozes de um bloco. Eles estavam voltando. O canto que eles entoavam se chamava de “regresso”. Não sei de lembrança que me comova tão profundamente. Não sei de vontade igual a esta que estou sentindo, de ser o menino, que acordava de madrugada, com as vozes dos metais e as vozes humanas daquele carnaval liricamente subversivo”
                                           
 Renato Phaelante da Câmara
Pesquisador de MPB

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