Por José Teles
Fui eu quem apresentei Nelson Ferreira e José Rozenblit. Eles se
conheciam de nome, mas não pessoalmente”, quem diz isto é o maestro José
Menezes, coautor, com Aldemar Paiva, do frevo-canção Boneca, gravado por
Claudionor Germano no disco de 78 rotações inaugural do selo Mocambo, da
Fábrica de Discos Rozenblit, há 60 anos. Menezes, que completou 90 anos em
abril de 2013, já vinha de uma carreira bem-sucedida na música pernambucana, sobretudo
no frevo.
“A Rozenblit foi de suma
importância para o frevo, para intérpretes e autores. Eu era um dos autores
daqui que tinha músicas gravadas no Rio – Eu, Zumba, Nelson, Capiba e Levino.
Mas na Rozenblit era diferente, tinha maior divulgação. Por volta de novembro
as rádios começavam a tocar as músicas; no Carnaval todo mundo cantava junto,
nos bailes de clubes”, comenta Menezes.
Ele era frequentador da Lojas do
Bom Gosto, na Rua da Aurora, um ponto badalado do Recife nos anos 1950. O
frevo-canção Boneca foi composto com o alagoano Aldemar Paiva, compositor de
alguns frevos clássicos, como Pernambuco você é meu e Evocação nº 6 (ambas com
Nelson Ferreira), para tentar emplacar mais uma gravação dos dois numa
gravadora “sulista”. Como acontecia desde os anos 1930, os representantes da
RCA, Odeon, Sinter e Continental escolhiam, com os lojistas, os frevos que
seriam interpretados por orquestras e cantores do Sudeste.
Uma produção específica para o
Carnaval pernambucano. Menezes por exemplo teve o seu frevo de rua Freio a óleo
gravado pela Orquestra do maestro Zaccarias, em 1950. “Boneca não ficou entre
os frevos escolhidos para serem gravados. Acharam muito romântica para o
Carnaval. Rozenblit gostava muito desta música e me disse que ia gravar por
conta dele. Pediu que eu sugerisse a música para o outro lado do disco. Sugeri
Nelson Ferreira. Disse que ia procurar Nelson e saber se ele queria ceder uma
música para o disco”.
Zé Menezes conta que Nelson
Ferreira não lhe pareceu muito interessado: “Ele não botou muita fé, não
acreditava que fosse dar certo. E acabou sendo um disco histórico”. Mas Nelson
Ferreira, convencido por Zé Menezes, que tocava em sua orquestra, cedeu a José
Rozenblit um frevo de rua que se tornaria um clássico, Come e dorme, o
conhecidíssimo hino não oficial do Náutico. Assim como aconteceu com Claudionor
Germano, dali em diante, embora tenha lançado discos por diversas gravadoras do
Sudeste, a carreira de Zé Menezes estaria ligada a da Rozenblit, ou a Mocambo,
como a empresa era popularmente conhecida.
E ainda mais ligada ficou a de
Nelson Ferreira, que se tornou seu diretor musical: “Eu fui assistente dele. Aliás,
ele foi meu pai artístico, nasci artisticamente tocando com ele na Rádio Clube,
em 1949”, conta Zé Menezes”, mestre no saxofone e clarinete.
Na gravadora da Estrada dos
Remédio, ele trabalhou com artistas locais, nacionais e até internacionais que
vinham gravar nos estúdios da Rozenblit. “Gravei com Bienvenido Grande, o
cantor cubano que foi muito popular nos anos 50. Fiz duas músicas com ele, uma
foi Boemia (versão em espanhol de A volta do boêmio, de Adelino Moreira). O
pessoal vinha gravar aqui porque havia mão de obra barata. Os músicos recebiam
bem menos”, diz Menezes, que passou a ter seus frevos-canção gravados pela
Rozenblit.
A segunda música (em parceria com
Edinho), foi o frevo-canção Pataco taco, interpretada pelo Trio Guarani. Daí em
diante, sozinho ou com parceiros, como Manoel Gilberto, emplacou vários
sucessos no Carnaval e montou sua própria orquestra a partir de 1960. “Foram 45
anos com a orquestra, que acabou em 2006. Não tinha mais sentido. Neste modelo
de Carnaval não tem espaço para o frevo-canção, que é uma música para o povo
cantar junto. Nos carnavais de clubes, muitas e muitas vezes a orquestra tocava
e o folião dançava e cantava. Agora com essa música alienígena que colocam no
Carnaval, não tem vez para frevo-canção.”
Zé Menezes fala com a autoridade
de um dos compositores que mais assinam clássicos do frevo-canção. Não que
tenha parado de compor. No computador ele tem um acervo inédito arquivado. Não
há mais Rozenblit para lançar o sucesso do próximo Carnaval. “Eu mesmo me
encarreguei de reunir minhas composições mais conhecidas e banquei um CD com 20
faixas, para distribuir com os amigos”, diz.
José Menezes adquiriu, também
para distribuir com amigos, dezenas de cópias de uma reedição do álbum O frevo
vivo de Levino, gravado com sua orquestra, lançado pela Rozenblit. Assim como
praticamente toda o catalogo com selo da Mocambo, os discos lançados pelo
maestro estão há anos fora de catálogo.
Zeloso de sua obra, ele bancou
também um songbook, com suas principais composições, igualmente gratuito. “Eu
queria relançar minhas músicas, com um songbook, mas os projetos que foram
inscritos não foram aprovados nas leis de incentivos daqui”, conta Menezes, sem
se queixar. Perto de completar nove décadas de vida (estão previstas muitas
homenagens até lá), ele é antes de tudo uma pessoa de bem com a vida.
Publicado em 20/01/2013 em: www.jconline.ne10.uol.com.br
Publicado em 20/01/2013 em: www.jconline.ne10.uol.com.br
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